Querida pessoa que lerá este depoimento.
Querida porque estamos precisando nos sentir queridos. Hoje faz um ano e dois meses que
estamos vivendo de maneira contrastante a que havia me habituado nos últimos 23 anos, já
que meus aniversários de 24 e 25 anos foram comemorados em casa, em isolamento. No dia
16 de março, como me lembro bem deste dia, corri para casa com meu pequeno cacto nas
mãos; peguei o transporte público e pedi carona para o meu padrasto porque a partir desta
data iria começar a trabalhar em casa. Já existiam casos isolados de pessoas infectadas no
Brasil, mas nada que fizesse alarde. Outros países já haviam entrado em estado de
“lockdown” e decretado isolamento social enquanto eu ainda pensava nas roupas que usaria
no carnaval.
Este ano não teve carnaval. Não teve Natal lotado e nem festa de aniversário. Tenho passado
os dias quase que inteiramente em casa, saindo uma vez ou outra por ocasiões necessárias.
Crio algumas necessidades para não me sentir tão isolada, como as tão esperadas aulas de
direção presencial. Explorei mais o meu tempo iniciando a licenciatura e dando aulas de
redação aos sábados de forma completamente remota, online, assim como meu trabalho, os
papos com os amigos e até as reuniões de projetos se tornaram completamente virtuais.
Reorganizei minha vida neste novo modelo, remoto e, de certa forma, solitário, presa quase o
dia todo em meu quarto na companhia de dois gatos e, quando ouso sair do casulo, ando
pela casa para aproveitar também a família e o sol quando ainda é dia. Certos dias, paro
tudo para escrever poesia ou um texto qualquer por aí, que alivie a pressão de viver mais um
dia desta nova rotina. Projetando um futuro imprevisível, pensando no tempo que já foi vivido
e observando o presente que passa, hora após hora, alinhando expectativas que se esvaíram
com o vento e esperando por dias melhores.

L. C. O.

São Paulo (SP)
15 de Junho de 2021

RESPOSTA >

Queride L.C.O. Espero que você esteja bem! De início quero lhe pedir desculpas pela demora nessa resposta, só agora recebi sua carta. Pelo e-mail que recebi houve cartas que precisaram ser reenviadas pois o (a) primeiro (a) destinatário (a) não respondeu tendo sido então enviada para um outro destinatário (a). Esclarecida a demora, também quero lhe chamar de querida ou querido pois você tem razão, precisamos muito nos sentirmos queridos. Você já passou dois aniversários no isolamento, eu sou mais privilegiada pois passei só um e estou muito esperançosa de que no próximo, em dezembro, eu possa juntar alguns amigos. Eu também reorganizei minha vida com várias atividades online, faço Pilates, Alongamento, Movimento Vital Expressivo e fiz até um curso de teatro. Dou aula uma vez por semana também online e confesso, que tem dias que sinto uma overdose de tela. Ainda dentro de meus privilégios, moro em zona rural e posso fazer também caminhadas com minha amiga que é minha vizinha. Achei muito importante você ter iniciado a licenciatura e fico curiosa de saber em que área, como fala em dar aulas de redação aos sábados fico imaginando então que você seja professor (a) e que essa licenciatura tem a ver com pedagogia. Aí fico pensando que gostaria que essa correspondência tivesse continuidade. Especialmente quando li que em alguns dias você escreve poesia, vontade de lê-las! Espero muito que você já tenha se vacinado (a) e que esteja conseguindo manter a rotina que estabeleceu com um pouco mais de liberdade, que já tenha podido fazer pequenas reuniões com poucos amigos e que os momentos com sua família sejam de paz e com uma certa alegria e que seu “casulo” já esteja bem maior. Receba meu abraço fraterno.

M. C. C. C.

24 de Agosto de 2021

Campinas (SP)