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S. S. M. >< C. C. V. G. T.

Cartas da Pandemia / Cartas 2021  / S. S. M. >< C. C. V. G. T.

S. S. M. >< C. C. V. G. T.

É difícil

Saber por onde começar, principalmente por ainda estarmos vivendo como no começo (sem muitos cumprimentos das medidas de segurança e auxílio governamental para que possamos ficar, de forma segura, em casa).
Me lembro do último dia, era março e estava aproveitando o meu segundo ano do ensino médio, agindo normalmente. Não consegui me despedir daqueles que eu amava, tampouco imaginar que aquela seria a última vez que eu os veria (bom, pelo menos até agora). Acreditávamos que seria apenas uma semana, mas chegamos até aqui e, agora, sabemos que não há uma previsão real para o fim.
Desde então, tenho vivido um caos interno, tentando me reencontrar no mar tenebroso onde meu grito ecoa e me sinto só. Eu tenho uma família, uma namorada, um cachorro, mas nem sempre essas relações estão 100% leves (menos a com meu cachorro! Essa é, sem dúvidas, a que mais me fortalece e me faz respirar), e é compreensível, afinal, estamos todos em um mesmo contexto onde a esperança parece mais distante do que deveria.

Não conseguir me sentir segura é angustiante, minha família precisa trabalhar para que tenhamos o que comer e isso me dá ainda mais vontade de sair pelas ruas e manifestar pelo o que é nosso por direito (não podemos dizer que o governo não faz nada, pois deixar a sociedade sem nenhum respaldo realmente eficaz é sim fazer alguma coisa).

É muito difícil me manter viva quando estou desde o início dos meus 17 anos deixando a minha vida estacionar, esperando que o mundo melhore para que eu possa viver livremente. E mesmo que não houvesse uma pandemia, será que eu seria um alguém realmente livre? Mesmo sendo uma mulher preta e lésbica? O adoecimento do mundo vai muito além de um vírus instalado em nosso contexto.

S. S. M.

25 de abril de 2021
Rio de Janeiro (RJ)

RESPOSTA >

Olá minha amiga,

A situação se encontra muito tensa, eu lhe entendo completamente. Eu tenho 18 anos e acho que estamos tendo conflitos parecidos. Eu te garanto, você não está sozinha. Eu entendo o que você passa, sendo eu mulher, pobre e de interior. O mundo não nos favorece nem um pouco, né? Mas tenho certeza que a gente vai vencer tudo isso.

Aqui em casa também não tenho um relacionamento muito bom com a minha mãe, que é a única que mora comigo, mas ainda tenho esperança, e eu tenho certeza que as coisas vão melhorar (com certeza sem o verme lá no Planalto). Eu acredito nisso e quero passar um “cadinho” dessa minha esperança para você.

Eu, às vezes, penso que estou me deixando estacionar, mas logo repito para mim mesma que estou dando meu melhor, que essas inseguranças não definem quem sou, e eu tenho certeza que você também é uma mulher forte, guerreira, que tá se esforçando e dando o seu melhor. Moça, você é luz, não deixe o preconceito te levar deste mundo, fique, lute, vamos fazer desse lugar, desse país, um lugar melhor, juntas.

A revolução tem nome de mulher e a paz e a tolerância são substantivos femininos. Esteja aqui, ser mulher é estar em uma irmandade, e uma guerreira a menos nos deixaria mais fracas. Fica, minha flor, fica, que a primavera será esplendorosa.

Eu te envio todas as boas energias, amor e força desse mundo. Nós venceremos.

Um grande xero (quero continuar escrevendo a você, se você também quiser).

C. C. V. G. T.

27 de julho de 2021
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