Caro(a) leitor(a),

aqui vai uma série de desabafos sobre esse momento tão desafiante que temos atravessado:2020, ano que entrei na universidade (obrigada, Aba!) e pela primeira vez me vi me afastando da minha família para ir morar em uma cidade que até então eu nunca nem tinha ouvido falar.

Apesar das despedidas chorosas, sentia que aquilo não era um adeus, mas sim que se tratava de um “até breve”. Pois bem, dali uma semana eu retornava para a minha cidade natal para uma quarentena que, sim, pensei que seriam de apenas 40 dias, mas de lá para cá já se passaram  um pouquinho mais de um ano, e sigo por aqui, realizando as atividades da faculdade de maneira remota.

Pensar na possibilidade de ir embora de casa e perder momentos preciosos como minha avó ouvindo louvores pela manhã, as gatas correrem para o quarto para me acordar, ir até a minha tia para contar uma fofoca, ver mainha chegar do trabalho, ou ainda, as noites de pizza sempre no dia anterior à folga da minha mãe, me fizeram tentar aproveitar esses pequenos momentos  ao máximo.

Voltar para casa e desacelerar, assim como todo o mundo, me propiciou ter momentos mais valiosos ainda, como levar autoestima para a minha avó através da maquiagem, aprender a fazer trança nagô (tem que ter muita paciência, porque a vontade no início é de arrancar o cabelo kkkkk), perceber que cultivar amizades é necessário, e nem sempre é por assuntos mirabolantes, fofocas, às vezes está no partilhar de coisas simples, como a receitinha que testei, o lettering que tô aprendendo a fazer e por aí vai. Digo isso porque na maioria das vezes me vejo sentindo saudade de amigos, mas penso que não tenho assunto ou o que dizer além de que estou com saudades. E aí? Acaba ficando por isso mesmo, não mando mensagem e fico quietinha na minha.

Para além disso, aprendi que NÃO ESTAMOS NO CONTROLE!

A gente tenta ter domínio sobre o tempo, sobre situações, colocar tudo em ordem para que não ocorram imprevistos e aí vem o corona e dá um socão bem no meio da nossa fuça. Depois que me dei conta disso, tenho tentado ser mais flexível com as situações, afinal, como poderia eu assumir o controle de um carro desgovernado? E por falar em desgoverno… a situação no meu Brasil brasileiro está bem tensa, hein. Pessoas morrem pela COVID, outras pela fome, algumas pelo descaso. Falta medicamento para o kit intubação, faltam doses de vacina, diria que falta até um pouquinho de humanidade em alguns casos. Assistir aos jornais já nem é mais tão leve assim, uma saturação de informações que ou me deixam em desespero, ou triste. Como intervir? O que fazer? Posso fazer algo diante dessa situação que de alguma forma amenizaria esse caos?

Sigo ansiosa pelo dia em que teremos superado todas essas adversidades (inclusive o presidente). Esperançosa para uma realidade em que TODOS tenham comida e um teto. Ok, meio utópico, né? Mas esse é o desejo do meu coração. Me dói um bocado pensar que tem gente que sequer possui água para lavar as mãos, para beber, que, pelo contexto no qual está inserido, faz jejum intermitente por ser a única opção.

Se eu pudesse ter um superpoder, gostaria de ter o da Vampira (aquela moça meio emogótica dos X-Men). Brincadeira (mas até que seria interessante), eu gostaria de ter o superpoder de combater injustiças e transformar realidades. Levar um quentinho ao coração das pessoas através de esperanças que sejam palpáveis. OK, mas como assim?Bora lá que te explico. Para mim, parece tão distante um intercâmbio cultural, uma  vida financeira estável para mim e para os meus…. e no que me apego? Na fé, na esperança de que um dia as coisas melhorarão um tantão. Ainda não sei como será alcançar esse caminho, mas espero alcançá-lo, de alguma forma.

Não tenho algo “palpável” sobre isso, entende? Bom, por aqui vou encerrando essa cartinha, foi muito boa a experiência de escrevê-la enquanto ouvia um bom  lo-fi (super recomendo a música É tudo sobre você cover versão trap/ lofi, do canal Music Room, muito boa, juro! Escuta e me diz o que achou quando for responder a carta, belê? Ah, aproveita e escuta também, e assiste o clipe, Casio – Jungle!) Comecei essa cartinha com a cabeça doendo e o corpo um tiquinho dolorido, ambos pedindo arrego. Agora estou melhor. Palavras curam!! Espero que tu esteja bem, assim como as pessoas que ama. Se cuide! Um abração!

R. S. P.

29 de abril de 2021

Franco da Rocha (SP)

 

Resposta>

Olá R. S. P,

Li a sua carta tem uns dias já, e todos os dias lembro que tenho que escrever para lhe responder e acabo deixando passar (rsrs) isso já faz 9 dias, desculpas, minha intenção era receber sua carta e já responder logo, mas acabou não dando, peço desculpas desde então, acho que no decorrer da minha carta você irá entender ou não.

Quero começar dizendo que achei muito legal essa experiência de poder está lendo sua carta a sensação que eu tinha era que eu estava escutando você falar comigo do meu lado, os sentimentos de acordo com as coisas que você ia falando eu ia sentindo junto, foi bem legal mesmo, e alguns dos sentimentos que você está vivenciando também estou passando ou já vivenciei, então acho que ajudou nessa sensação.

Que legal que você está vivenciando essa oportunidade que é a faculdade. Também tive essa oportunidade, e foi de muito crescimento, muito mesmo, não só profissional, mas pessoal sabe!? Quero lhe dizer para não ficar só em assistir aulas dos professores, das atividades necessárias e só. Procura mais, se tem extensões, monitorias, grupo de algo, eletivas de temas que te chamam atenção vai lá e faz, é muito boa essas vivencias fora da nossa caixinha de Carga Horária obrigatória.

São experiências únicas, aprendemos coisas para a vida, para o nosso crescimento pessoal. Sei também que de modo remoto as coisas ficam bem mais difíceis para fazer, mas vai voltar ao normal e quando voltar lhe dê esta oportunidade e se puder antes mesmo de voltar ao presencial e surgir, abraça que é muito boa a experiência. Falo isso porque a gente está em constantes mudanças, e de pensamentos também e a faculdade ajuda muito a nos formar.

Sou muito grata pelas vivencias que tive fora da sala de aula, contribuíram muito para o que penso hoje e acredito, até como mundo que queria que existisse sabe? Esse mesmo mundinho que você fala que parece ser utópico, eu também sonho por ele, e também me parece tão distante conseguir vivenciar um dia. Estamos vivendo em momentos tão difíceis né que parece que está mais longe ainda. Mas não devemos desistir, ter esperança sempre, e nos nutrir de esperança para nos fortificar. Fiquei curiosa em saber qual curso você está cursando, se tiver a oportunidade me conta.

E que bom que você está podendo aproveitando mais sua família, isso é muito bom e que bom que você consegue enxergar isso pelo lado positivo, fico muito feliz. A gente tem que a prender a ver as coisas pelo lado positivo mesmo. Pelo menos eu tento e vejo que é bem melhor. Escutei suas duas indicações de músicas e gostei, gosto quando pessoas me apresentam músicas para ouvir, diferente daquelas que já ouço no meu dia a dia.

Acho que vou encerrando por aqui minhas palavras queria poder falar bem mais, mas são tantas demandas no nosso dia a dia, esse mundo é tão louco que não nos permite parar um pouco e aproveitar coisas simples, parece que a gente tem que ir de encontro, para fazer essas coisas. Mas sempre que possível mesmo com minha vidinha corrida de enfermeira, residente e concurseira tento ter momentos meus também, para desacelerar um pouco. Esse aqui está sendo um, ouvir suas músicas, estou ouvindo outras enquanto termino de falar com você. Desejo muita sabedoria, amor, gratidão, saúde para toda sua família, e aguardo sua próxima cartinha tá!? Fica com Deus!

F.L.S.R.

3 de agosto de 2021