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C. R. N. E. >< D. M.

Cartas da Pandemia / Cartas 2021  / C. R. N. E. >< D. M.

C. R. N. E. >< D. M.

A pandemia foi para mim uma montanha russa em muitos momentos, no primeiro instante o medo tomou conta de mim de adoecer ou de alguém próximo. Um pânico e ansiedade não me deixavam dormir. Num momento de transição de carreira e ao buscar uma recolocação e não conseguir. Tantos medos dentro de um isolamento, a minha fortaleza foi meu seio familiar, companheiro e filha. Quantas lágrimas derramei e no meio de uma harmonia no lar eu ia me entristecendo por ver tantas famílias em luto, a fome, desemprego e enfim a desigualdade social desvelada. Outro mecanismo para suportar tantas coisas foi mergulhar nos estudos e em voluntariado. O ano passou e sinto que estou parada, um carro ligado sem movimento. Saudades de tantas pessoas, de respirar ar puro e abraçar. Que tudo passe e as feridas da pandemia sarem.

C.R.N.E.

Fortaleza (CE)

Junho de 2021

 

RESPOSTA >

 

Olá C. R. N. E., Como você vai? Espero que bem. Fiquei muito contente em receber notícias suas mesmo sem a gente se conhecer. Eu me identifiquei com muitas coisas do que você disse. Sentimento de “montanha russa”, “ansiedade” que não deixa dormir, essa tristeza que sentimos sem identificar muito bem de onde ela vem, até perceber que se deve ao tudo que estamos vivendo. A pandemia foi (tem sido) para mim um momento de tomada de consciência, parece que foi assim para você também, não? Durante a pandemia passei por muitas mudanças em minha vida. Me mudei para morar com meu amor, uma decisão acelerada pela quarentena. Também mudei de trabalho, sempre no modo remoto. Percebi que nesse modo a quantidade de trabalho aumentou tremendamente, você dorme e acorda no trabalho. Aos poucos percebi que passava dias, semanas inteiras, muitas vezes, sem colocar o pé para fora de casa. Comprando no supermercado pela internet. Foi um pouco assustador, com um efeito ruim para minha saúde mental. Depois comecei a sair e decidi que coisas simples e não arriscadas para a saúde eu faria preferencialmente saindo de casa. Também voltei a fazer caminhadas, andar de bicicleta… que isso foi me deixando mais forte, pois fez bem para a minha cabeça. Comprei livros durante a pandemia que tinha vontade de ler e pouco tempo além do trabalho (sou professora universitária, leio muito sobre as mesmas coisas, rs). A música também ganhou mais espaço em minha vida, uma espécie de refúgio espiritual. Espero que você esteja bem nesse momento, C. R. N. E. Já faz um tempo que você escreveu sua carta para esse projeto. Espero que a resposta a ela encontre você bem: com saúde, cabeça e coração bons. E totalmente vacinada! Eu já tomei a primeira dose, devo tomar a segunda em setembro agora. Meus amigos dizem que aos poucos vamos “voltar ao normal”, mas essa expressão soa um tanto estranha para mim. Que normal é esse? Queremos voltar para a vida de antes? Eu não sei, acho que gostaria que as pessoas que morreram voltassem, mas elas não voltarão. Então não sei que normal é esse que as pessoas querem que volte. Eu quero que o retorno às ruas e à vida presencial seja um retorno marcado pela vontade de mudança de tudo. Me seguro pensando que muitas pessoas no fundo também se sentem assim. Um abraço carinhoso em você e os seus.

D. M.

27 de Agosto de 2021

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