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D. N. >< C. B. < D. C F.

Cartas da Pandemia / Cartas 2020  / D. N. >< C. B. < D. C F.

D. N. >< C. B. < D. C F.

Olá Emancipa! Gostaria de agradecer a oportunidade de participar do curso. Bem, assim que começou a quarentena minha filha de 13 anos tinha tido poucos dias de aula, como estudo em escola pública (Colégio Pedro II – Humaitá no RJ) não foi adotado EAD, mas a escola disponibilizou indicações de estudos pelo site, o que temos tentado seguir. Junto com alguns pais estamos pagando um valor simbólico para duas professoras que dão aula de português, matemática e francês. Contudo, mesmo sendo pequeno o valor, muitos pais estão com dificuldades de arcar com novas dívidas, então poucos alunos tem este acesso. Minha filha mais velha de 20 anos, quando começou o isolamento estava na casa do namorado e lá ficou. Ela também teve as aulas paralisadas na UFF onde faz história. Pedi para que ela ajudasse a irmã nos apontamentos de história que a escola mandou e conversando sobre o assunto decidimos que ela poderia ajudar aos demais colegas sem cobrar pelas aulas. Desta forma todos ganhariam já que ele iria ter um experiência com aulas durante a pandemia. Para nossa surpresa a adesão foi de quase todos os alunos da turma da Luiza. Houve divulgação de uma mãe sobre as aulas dela e outros alunos da unidade Centro do CP2 estão participando. Então, ESTOU MUITO FELIZ com a possibilidade de todos se ajudarem neste momento difícil. Eu sou assistente social da prefeitura do Rio de Janeiro e sigo trabalhando. Três vezes por semana in loco e nos demais dias por teletrabalho. Este não é fácil já que nos consome e horários e dias diversos. Trabalho especificamente com Educação em Direitos Humanos, infelizmente nossos projetos foram suspensos até a retomada das rotinas já que nossa atividades dificultavam o distanciamento. Estamos no momento na linha de frente com os atendimentos aos idosos nas comunidades. Em casa tento arrumar aqueles espaços que ficam por último. A convivência 24h com meu marido não é fácil, mas tento exercitar a paciência. Estou participando das aulas do emancipa, e também de um curso sobre feminismo muito bom. Procuro lives interessantes para assistir (participei de uma sobre a África muito boa). Também estou participando de um grupo de meditação. Faço “conferências diárias” com meu pai e meus dois irmãos, nunca nos falamos tanto, e percebo o quanto isto está sendo importante para meu pai que está com 87 anos e tem problemas pulmonares, além disso ele é muito inteligente e detesta o Bolsonaro, estamos relembrando histórias antigas da família e o ajudando nos dias
mais difíceis. Já engordei alguns quilos e espero que este
momento acabe com responsabilidade pois já perdi alguns colegas
de trabalho para a COVID 19.
Fiquem Bem!!!

D. N.

08 de Julho de 2020

 

RESPOSTA >

 

Olá, D. N! Que honra ler a tua carta! Fiquei muito tocada com a atitude da sua filha mais velha! É tão incrível ser parte dessa rede de apoio e solidariedade, né?! E, ao mesmo tempo, pode ser tão simples. Foi o que você fez, abriu os olhos e percebeu que o que estava acontecendo com sua filha Luiza, também estava acontecendo com outras jovens e se sua filha mais velha poderia ajudar a ela, poderia ajudar outras adolescentes também! Nossa! Trabalhar in loco cansativo… e ainda tem o trabalho dentro de casa! Espero que seu esposo seja responsável e compartilhe contigo as tarefas de limpar, cozinhar, arrumar. Se ele não estiver fazendo a parte de hehehe Sou da turma feminista que acredita que todas juntas somos mais fortes e precisamos umas das outras para nos fortalecermos e nossos direitos (e botar os homens para fazer o que alguns ainda chamam de “coisa de mulher”). Fiquei curiosa para saber mais desse c a África que você assistiu. Tenho estudado um pouco sobre racismo, fez um projeto bem bacana que talvez você goste chama (https://www.youtube.com/watch?v=hgpC6 Você contou das demais! Imagino que seu pai tenha muita história para contar! 87 anos e não gostar de Bolsonaro!? Uma prova e tanto de que está lúcido e é inteligente! Lembre de cuidar meditação. Que tal fazer alguns exercícios de alongamento? A cervical fica bastante prejudicada pelas horas e horas em frente ao computador. Além do trabalho e dos cursos você está fazendo algo por diversão? Alguma atividade manual, jardinagem, livros? Essa coisa de quarentena aumenta a nossa carga de atividades e a gente acaba esquecendo de fazer coisas “só por fazer”. Eu tenho bordado e tricotado para espantar a tristeza manter o coração mais tranqüilo Vou ficando por aqui, desejo que você e sua família fiquem bem, com saúde e força para seguir. Um abraço apertado!

C. B.

16 de Julho de 2020

 

SEGUNDA RESPOSTA >

 

D.C.F CARTA DESTINATÁRIO Car@ D.N que bom que você tem conseguido dar conta do trabalho e da família de forma harmoniosa, pois pra algumas pessoas estar privado do convívio social no trabalho causa muito sofrimento. Eu também tenho tentado assistir lives e debates muito construtivos sobre as questões mais urgentes como saúde, educação e renda básica permanente. Acredito que para defendermos nossas ideias e ideais precisamos construir um pensamento muito esclarecido a cerca das políticas públicas que apoiamos; e cursos como o de feminismo (que também fiz) e esse que concluímos são espaços de debates imprescindíveis para nos constituir como profissionais. Sou professora de educação física e ocupo cargo de analista de esportes em um dos CEUs da zona leste de são Paulo. Trabalho há 16 anos nesse espaço e presenciei muitas conquistas na época da construção e início de atividades e muitos desmontes também. A gestão Haddad se preocupou em tentar levar os CEUs de volta para a sua concepção original e agora novamente sofremos ataques sistemáticos e o desmonte pós pandemia me preocupa muito. Em casa estamos bem, minha filha de 19 anos teve um bebê dia 08 de junho, então nosso cuidado tem sido redobrado durante toda a quarentena principalmente por conta da gravidez e agora pelo nascimento do meu primeiro neto. Você falou sobre dificuldades com a convivência com o marido e posso dizer que no início da quarentena tivemos um pouco de atrito, ele está desempregado há dois anos e com isso a divisão do trabalho era ele em casa e eu trabalhando, o que ocorre na maioria dos lares do Brasil. Sou mais criativa que ele então muitas vezes a gente se estranha por que eu faço curso, teletrabalho, dou aula online e pesquiso muito e ele é mais da prática diária. Mas vai levando, um dia de cada vez. O que mais me aflige é não perceber os dias passarem porque estão todos iguais. A ausência de rotina, ou melhor estar preso em uma rotina massacrante de tanto teletrabalho como se tornou
nosso fazer e não ter perspectiva de quando poderemos voltar com
tranquilidade a circular é muito problemática do ponto de vista
da saúde emocional dos trabalhadores.
Sigamos na luta por uma sociedade mais justa, igualitária e
fraterna.
Muita luz pra todos nós.

D.C.F

 

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